Cidadania Enferma

Texto retirado do livro “Despoluindo a Política”, de Carlos Minc

“A grande cidade é como um organismo vivo gravemente enfermo. Ela é a expressão de profundos desequilíbrios econômicos, ecológicos e espaciais que configuram um ser disforme, com o corpo atrofiado e a cabeça de monstrengo.

A grande metrópole é com um predador colonialista que drena recursos e população do conjunto do território, conformando em pequenas áreas espaços congestionados, neurotizantes, com máxima entropia, e gerando em contrapartida, no rastro do êxodo, autênticos desertos demográficos, espaços decadentes e desarticulados. Nestas áreas a população padece de equipamento social e está entregue à monoindústria, ao latifúndio monocultor, ao desemprego sazonal e ao raquitismo salarial.

O organismo urbano está doente. O diagnóstico é assustador. A cidade está com conjuntivite, tem a vista agredida por espigões, irritada pela poluição, desfigurada por obras que dilaceram seu espaço arquitetônico e natural. A Cidade fraturou as pernas, tropeçando em buracos ou desabando do surfe ferroviário. A Cidade contraiu otite, tem os tímpanos inflamados pelos decibéis do Trânsito e das fábricas ou avariados na assintomática surdez dos responsáveis pelos órgãos de atendimento público. O organismo urbano está com amnésia, perdeu sua memória história devido à especulação imobiliária. Perdeu também o controle sobre seu crescimento, e as células enfermas se reproduzem qual um câncer metropolitano.

A cidade está a beira de um ataque de nervos, atormentada pelo trânsito infernal, assaltada em cada esquina ou na diária remarcação de preços e tensionada pelo individualismo e pela competição corrosiva.

A Cidade sofre do estômago, gente sem ter o que comer, outros regando com gordura o seu colesterol ou se envenenando lentamente com corantes, conservantes e acidulantes.

A Cidade tem um coração que sofre injustiças sociais e com extrema solidão urbana, paradoxal contrapartida de uma supostamente infindável oferta de oportunidades.

A Cidade sofre...”


2 Comentários:

Eduardo Albuquerque

Este comentário foi removido pelo autor.

Anônimo

o que eu estava procurando, obrigado

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